
Hoje sinto-me um pouco irritado.
Assim sendo, vou ver se a escrita me leva a irritação.
Quarto
A realidade esmaga-me e a cidade pinta-me de cinzento.
Olhares e palavras enchem a minha vida de mundanidades e preocupações que pesam em mim.
Carrego-as, passeio-as, e todos as alimentam.
Com pequenos toques faço por embelezar o que vejo, mas as massas corrompem-no.
Respiram problemas, e em si guardam as soluções. Um círculo vicioso.
Apontam dedos, na sombra contam segredos, e derrubam pessoas por simples ocupação do tempo.
Sustenta o cansaço apenas o saber da calmía que se avizinha.
E ainda que envolto em necessidades, ordens e afazeres, mantém-se um pequeno mundo aparte, onde o que sou é decidido no momento.
Ao fim do dia, arrastando âncoras de crise e pesos de tarefas, chego a casa.
Segurança inunda o ser, e com esforço, vai expulsando a cidade que trago nos ombros.
Melodias faladas regalam os olhos, e sorrio com a beleza que é capaz de se ouvir.
Caminho para o meu recanto, e deparo-me com a comum porta fechada.
Antes de esta tocar, questiono-me onde quero ir dar.
Pondero, imagino, e com a minha mente idealizo o local onde planeio ir descansar.
Empurro a porta, e rapidamente sinto a brisa a tocar-me.
A lua pinta o céu, e plantação marca a paisagem.
Alguma claridade ilumina o verde, e dá cor ao lago que vejo.
Apenas duas árvores preenchem o espaço, as suficientes para me encostar e contar os peixes do lago.
Avanço e toco as flores que me cumprimentam com sorrisos, e olho as folhas que me cantam em convite.
Pequenas criaturas saltam, todas procurando o melhor lugar para ver o pôr-do-sol.
Caminho, e procuro um para mim também.
Sento-me encostado á primeira árvore, e depois de saudar os peixes, arrasto a minha atenção para o horizonte.
A lua despede-se mais uma vez do sol, e todos os olham.
Com o seu mais longo braço o sol acena, e consigo afunda todo o laranja que coloria o olhar.
A multidão de seres rapidamente se dispersa, e aí vejo que devo ir.
Já perto da porta passo mais uma vez os olhos pela vista agora adormecida.
Guardo essa imagem em mim.
Saio, fecho, e preparo-me para mais um dia.
Sempre com a fotografia em mente, que me irá ajudar a carregar tudo mais uma vez.